19 de outubro de 2014

179 - YASMELA-SHELLEY MUZZY

179 por Carine Würch - SEMANA 20


Desde quinta-feira, quando postamos a opinião de Yasmela sobre o ATS (leia aqui), tive sentimentos diversos em relação ao tema.

Entendo o que ela quer dizer em relação a Dança Oriental, como entendo o ponto de vista da minha amiga Maria, que tem mais experiência no ATS que eu.

Meu primeiro contato real com o ATS e com a Maria, rs, foi em maio deste ano, no curso da Kristine Adams. Com toda certeza fiquei encanta com tudo que aprendi, e sempre quero mais! Pois acho que quanto mais sabemos, sobre diferentes assuntos, mais soma para nosso conhecimento, influindo em nossa dança.

Imagino o que foi a década de 70 em São Francisco... todos aqueles clubes, esperando e contratando bailarinas, esperando delas uma apresentação-espetáculo, esperando entretenimento, diversão. Yasmela e todas as filhas do Bal Anat vivenciaram este momento, tão diferente de nós, ou de mim, em especial. A própria experiência de palco do Bal Anat é muito diferente das apresentações que temos hoje. E com certeza é diferente do momento em 1987, quando o ATS iniciou oficialmente.

Entendo quando Yasmela diz que o ATS é seu público em si, e em termos concordo. Não há contato visual direto com o público, e o olhar deve ser "longínquo" e não expressar muito da emoção  individual. (Corrijam-me se estiver falando besteira, mas foi isto que percebi do workshop). O grupo, apesar de estar se apresentando, é uma formação que se completa, que se entende, que se conecta sem palavras, e talvez o público fique de fora, "assistindo de cadeira." Em especial quem não tem a vivência com o ATS! As roupas impressionam, a união, a conexão, tudo é muito muito lindo! Nunca vi uma apresentação fora do vídeo, ou do palco, então não sei o que dizer sobre as apresentações em restaurantes, eventos, etc...

Entendo o que Yasmela diz sobre a conexão da bailarina de Dança Oriental com a público. Há olhares. Há o charminho. Há interação. Há o convite para dividir esta paixão, como ela mesmo fala.

Nascida em uma outra época, e vivendo em outra cultura, para mim foi bastante difícil iniciar na Dança do Ventre (indicação da terapeuta), tive muita dificuldade em lidar com este lado sensual, pois não estava acostumada, com este lado feminino, com estes movimentos que mexem com o corpo e a cabeça! Quando vi o Tribal Fusion, via Rachel Brice, me apaixonei pelo figurino diferente, mas também, por não parecer que a bailarina estava tentando seduzir o público.

Há um outro tipo de conexão com a platéia. De admiração, de inspiração. O Fusion já está caminhando para uma nova era, acredito eu, que vai conseguir balancear o sexy do "ritualístico em si", que Yasmela imagina ter se tornado o ATS

Creio que o Fusion está permitindo trazer de volta esta questão do sensual para nossa dança, nas roupas, nas músicas, e na interação das bailarinas. Não há um padrão fechado de dress-code.

Um não diminui em NADA o outro. E gostei muito do que ela falou na última frase. Que talvez o ATS não esteja tentando ser Dança Oriental / Dança do Ventre, talvez a proposta seja exatamente esta, e não há mal algum.

Entendermos os estilos, ouvir as opiniões e respeitá-las, é a busca incansável da sociedade. Ver o outro lado, o outro ponto de vista, não a partir da minha, e da minha experiência... tentei ver com os olhos de Yasmela, de quem vivenciou coisas completamente distintas da minha, e olhei através dos olhos de Carolena, que talvez estivesse de saco cheio do bellydance cabaret...




Quem está certo? Quem pode dizer?

Creio que devemos buscar e fazer aquilo que nos traz maior alegria, que traz felicidade e nos dá vontade de dançar!

O melhor é experimentarmos, para poder dizer, quero ir por este caminho... ou por aquele... para cada bailarina há uma caminho específico e só cada uma de nós vai poder encontrá-lo, dentro de si...



Deixo para vocês algumas fotos de Yasmela, bem como este texto da minha professora Daiane Ribeiro, que tem me ensinado há muitos anos, e eu me sinto como alguém que passou a se conhecer mais, entender sua feminilidade, que está aprendendo a lidar com a sensualidade dentro da dança sem parecer vulgar, grosseira, ou simplesmente de mau gosto. Este lado feminino é lindo e maravilhoso, e nada melhor que o auto-conhecimento para aceitarmos que isto é inerente a nós, e que não precisamos usar isto como "arma de dedução para achar marido", nem para tirarmos vantagem de algo por causa disto.

Estamos ainda no caminho para vivermos nossa sexualidade plena, sem medo, vergonhas, castração social, sem o machismo nosso de cada dia. E sermos o que somos, mulheres, femininas, e ao meu ver, sensuais por natureza.

Deixo vocês com o texto:


Daiane Ribeiro - 05/08/2007 - Pense sobre isso


Sobre a dança e sua importância para as mulheres

Muita gente ainda hoje fica de nariz torcido quando ouvem algo sobre danças femininas ou dança do ventre. Com razão! Afinal uma arte conhecida tão superficialmente aqui no Brasil teve por parte das próprias divulgadoras a pior das impressões. Uma dança de caráter mundano e exibicionista, sem o mínimo talento ou propósito artístico real.



Apesar de estar em minoria, cá tento eu esclarecer outra visão que precisamos conhecer dentro desse mundo fascinante que envolve a dança.


Para quem assiste, a primeira impressão é a que fica, pelo menos até um próximo contato... geralmente o que assistimos em primeira mão possui um nível duvidoso. Você pode se sentir privilegiado se já assistiu alguma apresentação de dv que realmente tenha lhe transmitido sensações positivas. 

Como platéia, ás vezes o que sinto é tristeza. Como bailarina, entendo as diversas fases do aprendizado e procuro não ser tão trágica.


Essa dança milenar é sagrada e merece tanto respeito quanto um flamenco!

O problema é que ela, sem orientação, não possui limitações morais básicas e acaba sendo utilizada apenas para divertimento e super inflação de egos. Há muita coisa por trás de um trabalho com danças que vc nem imagina.

Nas primeiras aulas, estamos extremamente preocupadas com o corpo e com a falta de flexibilidade. Achamos que nunca alcançaremos com exatidão algum movimento. Com um pouco mais de persistência, parece que o corpo começa a se acostumar com uma nova linguagem, nascendo os primeiros movimentos com mais forma.

Acontece uma breve estima pelo que se consegue fazer, aumentando o interesse. O aprendizado continua e os progressos físicos e psicológicos também. A auto estima se eleva com a capacidade de dançar.

Apesar do pouco tempo de aprendizado, muitas vezes a vontade natural em relação à essa descoberta é mostrar ao mundo o que alcançamos, como a criança quando ganha um brinquedo bonito. É bem natural até certo ponto.

O ponto em questão é o apelo na utilização da sensualidade, a despreocupação total com a música e a arte a qual nos propusemos a demonstrar.


A Dança Oriental é rica, é espiritual, também é divertida e sensual por si só, sem necessidade de impor ainda mais. Todos os movimentos básicos possuem uma simbologia ligada ao universo e foram feitos para a mulher genericamente, trabalhando suas formas e músculos como nenhuma outra dança.

Dança Oriental Egipcia reverencia o feminino, é mais Afrodite, mais maternal, apaixonada, cheia de delicadezas ou alegrias, ilustrando composições musicais orquestradas clássicas e dramáticas, ou revelando habilidade rítmica da bailarina ao som da percussão.



A Dança Tribal é intensa, forte, exata, definida, desenhada, mistura etnias, sons de raíz, indiana, africana, cigana, egípcia. É mais Ártemis, guerreira, ligada totalmente com a Terra, é seu choro e sua fúria, e também seu perdão para nossa ignorância.

Em ambas podemos descobrir uma consciência nova, uma verdade que há em cada mulher. O respeito próprio e o equilíbrio das emoções ou a espiritualidade adormecida."

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