1 de novembro de 2017

"Eu desde sempre, quando abria meus círculos, “convidava” a Sombra para ocupar uma cadeira, o que deixava muitas participantes assustadas" (Entrevista com Cler Barbiero de Vargas)

ENTREVISTA PILARES FEMININOS
Projeto: Sagrado Feminino 

Há muitas afinidades entre o universo da dança e o Sagrado Feminino, muito mais do que supomos. Vamos começar colocando LUZ em nossas sombras e entendendo um pouco mais sobre este aspecto que quando negligenciado pode destruir pessoas, grupos e a nós mesmas, enquanto gênero feminino, porém quando equilibrado...bem, vamos nos deleitar com essa entrevista deliciosa, pipoca, suco...3...2...1

Cler Barbiero de Vargas
Escritora, curadora, pintora, curandeira e mãe. Autora de O livro das Orações à Deusa (Pólen livros), e cocriadora do Sistema de Cura Essências da Deusa, que oferece Florais da Deusa e Polaridade Sistêmica®, tem se destacado portar conhecimentos novos e propostas em que a luz e a Sombra são igualmente completadas. Trabalho sólido há de 20 anos com Círculo de Mulheres

Pilares - Vejo uma corrente  buscando LUZ, emanando luz, honrando a luz. Ano passado tive contato com "As faces escuras da Grande Mãe" Mirella Faur, que me abriu a mente para este lado que todas temos e agora me chega ao coração o seu livro "A sombra nos grupos e círculos de mulheres". Fale um pouco sobre este seu trabalho.

Cler - Eu desde sempre, quando abria meus círculos, “convidava” a Sombra para ocupar uma cadeira, o que deixava muitas participantes assustadas. Mas no meu entendimento, a Sombra é a Mestra, que traz os aspectos inconscientes ou negados daquele grupo ou das participantes e quando ela é compreendida e integrada, há um aprofundamento na conectividade mútua e na consciência geral do grupo. Meu foco nisso veio de experiências minhas mesmo, onde neguei a Sombra e ela cresceu tanto que destruiu a unidade do grupo. Daí fui olhar minha própria Sombra, estudar, experimentar, e ver meu próprio jeito “tudo luz”, que negava a interação com a Sombra. Aí o trabalho com a consciência da Sombra se tornou a marca registrada do meu método de Círculos e Grupos de Mulheres.

Pilares -  Quem leu seu livro terá vontade de iniciar um Círculo de Mulheres, ou ao menos participar. Que sugestão você daria para uma irmã-mais-nova iniciando este caminhar? Ou mesmo querendo estar na guiança de outras mulheres.

Cler - Acho que se a Irmã-Mais-Nova tiver oportunidade, é sempre bom – e mais seguro – participar de uma boa formação. Eu ofereço uma Formação Intensiva no meu método aqui em Florianópolis, e tem a formação da irmã Soraya Mariani na Cirandda da Lua, outro trabalho forte e profundo. Se, porém, a mulher não tem como atender uma formação adequada e confiável, recomendo que comece devagar, com círculos avulsos e curtos, e que trabalhe com os assuntos que conhece. Ou traga textos de autoras para um estudo conjunto, isto é, se apoie no trabalho daquelas que vieram antes.

Pilares - "Não gostamos do Caos; gostamos do Antes e do Depois..." esta passagem do seu livro traz à tona o incômodo, as mudanças (talvez). Percebo uma tendência a abstrair ou colocar panos quentes, quaisquer subterfúgios para não olhar o que deve ser visto e tomar as atitudes necessárias. Como vivenciar o caos com equilíbrio (eis o paradoxo)?

Cler - Primeiro temos que nos ancorar na estrutura espiritual de Luz ao qual estamos ligadas. É como quando estamos numa tempestade de raios e pedimos proteção aos anjos e guias, aos Deuses e Deusas, aos Santos. Isso é o primeiro passo – pedimos proteção. Em seguida, minha sugestão é que a facilitadora pare tudo e dê uma aula sobre o Caos e traga consciência de que o grupo está atravessando esta poderosa energia. E as convide a não negar – mas a atravessar com atenção redobrada – a si mesma e ao que está projetando.

Pilares -  O "bode expiatório" figura abordada em várias passagens e que contém outros 3 papéis: a vítima, o perpetrador e o defensor. Essas figuras vemos dentro e fora dos círculos de mulheres, como sair destas armadilhas e boicotes? 

Cler - De modo geral é trazendo consciência e nomeando o que está acontecendo. Como digo no livro, é parar tudo e perguntar:

- Não estaria acontecendo aqui a dinâmica do Bode Expiatório? E explicar o que é, e quem sabe trabalhar um pouco as situações familiares e de grupo onde as pessoas se identificam como num dos papéis. Muitas vezes fomos Bode Expiatório tantas vezes que quando percebemos a energia se apresentando já vamos para o Perpetrador, para não correr o risco de ser o Bode. Então, o trabalho em grupo é um constante navegar e observar os sinais.

Pilares - Vivemos no Brasil um período de trevas na economia e comumente vemos críticas ao trabalho (sério) de irmãs que cobram energia de troca, pode acender uma luz para nos guiar nesta sombra?

Cler - A energia do dinheiro é onde vejo forte a Sombra da irmandade feminina se manifestar. Quando a pessoa não valida o trabalho da outra, não valoriza, não se abre para trocar. E tem pessoas que falam “círculos ou trabalhos espirituais não devem ser cobrados, pois não se cobra o que vem da Divindade”. Verdade. Não é isso que se cobra: se cobra o tempo e formação da facilitadora, o espaço, o lanche, os materiais e tudo mais que envolve uma organização. Quando alguém que é uma Mulher Medicina profissional é cobrada porque pede energia de troca, fico até irritada, porque estamos na matéria, num corpo físico, e queremos viver como no Espiritual? Porque se você não cobra um Círculo que tem custos, ALGUÉM paga estes custos – ou a própria facilitadora ou um espaço que oferece isso gratuitamente. Agora, se você oferece um trabalho num parque, num local gratuito, então tudo certo – você pode oferecer seu trabalho como uma oferenda à Divindade e não cobrar. Além disso, acredito que uma participante recebe MUITO num Círculo, se ela não faz uma troca (seja dinheiro, trabalho ou qualquer outra coisa), cria um desequilíbrio kármico e o Universo vai cobrar. A cobrança de uma taxa protege a relação Facilitadora-Participante, porque ela fica clara e definida. A energia do dinheiro é onde mais a Sombra entra, é preciso ter muito cuidado com ela!

Pilares - Costumo falar sobre ética nas redes sociais é muito comum mulheres que copiam textos, pensamentos, imagens fruto do trabalho e meditação das irmãs de caminhada. Então surgem duas questões a falta de ética de uma versus a necessidade de reconhecimento da outra, como você vê esta questão? A pessoa que se incomoda com o "furto" necessariamente busca reconhecimento? Aquela que por sua vez furta o trabalho intelectual de outra se vê como alguém incapaz de desenvolver suas próprias ideias? Tudo realmente se copia?

Cler - Fico tipo a deusa Kali na sua versão irada quando copiam meus textos e ideias sem dar o crédito. (risos)  Acho desleal uma irmã fazer isso. No meu livro falo muito disso e falo da Ordem de Precedência, quando você dá crédito e honras para quem veio antes, o que é um conceito das Constelações Familiares que traz cura e ordem para as relações. Kaká Werá diz que seria uma irresponsabilidade não cuidarmos do que colocamos no mundo, sejam filhos, projetos, textos ou ideias. Então não penso que quem se incomoda está buscando reconhecimento, embora seja muito adequado que ela o receba. Já temos esta relação de competição que envenena a relação das mulheres. Quando citamos ou usamos a ideia de uma irmã e damos crédito, fortalecemos o vórtice de cura, ajudando esta chaga a ser curada.

Pilares - O chamado a largar toda uma vida "normal" e se jogar em trabalhos como o seu, dedicados ao sagrado, a cura, ao crescimento espiritual... é geralmente muito forte, pode falar um pouco sobre usa jornada?

Cler - Como para muitos outros buscadores, o meu despertar veio através de uma doença. Aos 26 anos de idade eu tive um AVC (o popular “derrame”). Pequeno, mas suficiente para me deixar debilitada e com várias sequelas. Eu era uma jovem publicitária bem sucedida, trabalhando meio período na maior agência catarinense e no resto do tempo abri uma agência pequena com uma amiga. Basicamente trabalhava 12 horas por dia, me alimentava mal, vivia estressada, tinha pouco dinheiro e todos aqueles sonhos de grandeza fazendo pressão. Junto com tudo isso, o homem que eu estava para casar colocou a mala na porta e se foi da minha vida sem muitas explicações e minha melhor amiga que recém tinha tido nenê foi diagnosticada – ela e a bebê – com Aids e estavam muito doentes na UTI de um hospital. Eu “explodi” - minha biologia me fez parar e olhar pra mim. Eu tinha dores horríveis de cabeça, desmaiava e estava com restrições de movimento no lado direito do corpo. E, atenção: continuava trabalhando. Quando olho para trás parece uma vida passada e alguém levemente relacionado comigo (risos). Então a “bruxinha de plantão” lá da agência – graças a Deusa sempre tem uma, né? – me falou de um trabalho energético que uma pessoa fazia. Eu não acreditava, mas estava desesperada. Fui até lá – e jamais vou esquecer o olhar carinhoso desta mulher chamada Holberina, uma Mãe de Santo, o cheiro de incenso do ambiente, a música suave, era um oásis. Ela me disse que eu tinha “levado um raio no meu sétimo chakra”. Eu não entendi nada, mas me entreguei completamente e em seis meses estava curada. Mudei de vida: vendi a pequena agência, me tornei vegetariana e fui morar numa casinha no meio do mato. O meu despertar foi através deste momento desafiante.

Pilares -  Em seu livro você cita a Ordem de Precedência, como a chave entre iniciadas e iniciadoras para uma convivência saudável. E a necessidade da iniciadora estar atrás sustentando e ancorando, qual deve ser o papel da Iniciadora num grupo cheio de egos "fora da casinha"?

Cler - Com os “egos fora da casinha” você vai ter que ser firme e não ceder um só centímetro do seu Lugar. Não é ser territorial, é ESTAR NO SEU LUGAR, o que é bem diferente. Mas, lhe digo já, se você realmente está em seu lugar “os egos fora da casinha” não vão aparecer no seu Círculo. Se eles estão lá, lhe desafiando, é porque tem uma Sombra sua, relacionada com autoestima e autovalor, que precisa ser curada. O outro é só um espelho de nós mesmas.

Pilares -  "Amar firme", sem "mi-mi-mi"... sinto uma tendência a tudo virar comercial, as pessoas falarem de maneira a idiotizar as demais ou então vestirem o papel de "Irmãs-mais-velha-deusa-consorte de Buda", como ser firme mantendo o amor evidente e sem cair no abismo sedutor de querer vender o pacote da Iluminação subtraído das sombras?

Cler - Ah, grande desafio! O buraco negro do “tudo luz” é difícil de resistir mesmo. Acho que quando eu falo do “amor firme”, me refiro especialmente a uma GENEROSIDADE - em acolher, ancorar e ajudar a outra. Sempre vamos ter pessoas que embarcam no movimento do tal “empoderamento feminino” como uma forma de esconder suas vulnerabilidades e de se apresentarem como pessoas “iluminadas”. Se você quer ser uma facilitadora que ocupa seu lugar, mas se coloca também como humana e, portanto, passível de erros e fragilidades, tudo se equilibra. Quem é facilitadora não está lá para sobrecarregar o Círculo com seus problemas, mas pode e deve mostrar suas vulnerabilidades.

Pilares -  Acredito em práticas integrativas, em nos beneficiarmos de todos conhecimentos e assim buscar suavizar nosso caos e jornada. Mesmo na primavera devemos trabalhar as sombras? Individualmente e nos círculos de mulheres?

Cler - A Sombra deve ser trabalhada quando ela se apresenta. O Caos também. Simples assim.

Pilares - Que sugestões daria como temas a serem abordados em círculos de mulheres?

Cler - Acho importante que a facilitadora observe muito bem no seu grupo de amigas e de conhecidas, o que as mulheres estão se queixando, o que elas estão precisando. E procure ir nesta direção.

Pilares -  A cura é um processo longo e exige muita vigília, estudo, autoconhecimento. Você se diria uma pessoa curada?

Cler - Eu andei muito – digo que com quase duas décadas escolhendo sinergias de Essências de Campos de Consciência Polaridade Sistêmica®, eu adiantei dez vidas. Mas tenho ainda coisas a curar. O processo de cura e consciência é contínuo e interminável, até que nos iluminemos. E certamente eu ainda estou longe disso.

Pilares -  Você é artista plástica, fale um pouco das imagens dos Oráculos das Deusas e a inspiração para tais desenhos.

Cler - Eu criei uma modalidade de arte que se chama ARUMIEH Arte Curativa, onde ao invés de usar água para diluir as tintas, uso as Essências da Deusa. Uso símbolos, mantras e rituais enquanto pinto, o que resulta num quadro que é uma espécie de portal para dimensões elevadas. A inspiração vem das descrições das Essências, onde temos no Sistema 48 Deusas e 48 Deuses, de diferentes culturas.

Se quiser saber um pouco mais, tem um vídeo da minha primeira exposição, em 2012:
http://www.clerbarbiero.com.br/sobre-cler-barbiero/palestras-online/

E se quiser saber mais sobre Polaridade Sistêmica®: 
https://www.floraisdadeusa.com.br/terapia/terapia-com-os-florais-da-deusa/


Pilares -  São Paulo receberá você em breve para um workshop em parceria com Soraya Mariani, como será essa vivência?

Cler - Eu ofereço um Workshop de final de semana para facilitadores e facilitadoras de grupos neste tema. Então a Soraya me convidou para dar um “aulão” de um dia para as alunas dela da formação e abriremos 20 vagas para pessoas de fora.

Pilares - Círculos funcionais, observo que as vezes nada é funcional, é possível o processo de cura, iniciado dentro dos círculos femininos beneficiarem todos em volta da mulher que dele participa?

Cler - Sem dúvida! Uma mulher, quando cura a si mesma, cura o mundo!


Pilares -  Como trabalhar crianças que ainda não tiveram sua Menarca para que sigam o Caminho ancestral do Sagrado Feminino?

Cler - Eu penso que o melhor caminho sejam as histórias, contos e mitos. Através deles vamos fornecendo para esta criança este imaginário – que já está no inconsciente dela – sobre as histórias antigas. Oferecer rituais bem lúdicos e energeticamente protegidos também pode ser um caminho.

Pilares -  O homem, qual seu papel quando do lado há uma mulher desperta?

Cler - É honrar esta mulher como se fosse a própria Deusa manifestada na Terra e através dela encontrar o seu próprio Masculino Sagrado. Vejo muitas mulheres que entram para o Caminho, despertam, e deixam o parceiro para trás. Às vezes ele não quer, às vezes nem foi convidado. No meu ponto de vista, este é o ponto mais nevrálgico de nossa caminhada no despertar e cura do feminino – o equilíbrio com o Masculino.

Pilares -  Que recado gostaria de deixar para aquela mulher que se encontra desestimulada, se sente só e repetindo (inconscientemente) papeis de "bode expiatório", "vítima"...?

Cler - Vá fazer uma sessão de Polaridade Sistêmica® com um dos Terapeutas Autorizados do Sistema de Cura Essências da Deusa! É o maior motor que eu conheço para tirar a pessoas das armadilhas que, frequentemente, não são nem dela, são transgeracionais.

Pilares - "Que a Sombra seja a Mestra, que a Luz seja a Guia." Com base neste seu pensamento, entende que integrar as sombras é o caminho mais "fácil" para nos tornarmos equilibradas?

Cler - Não há outro caminho. Se será o mais fácil, não sabemos, mas certamente o mais proveitoso.

Pilares -  Qual seu entendimento sobre o movimento de EMPODERAMENTO feminino? Um termo bem controverso atualmente, uns odeiam outros veneram.

Cler - Acho que, infelizmente, o termo ganhou um viés bem comercial e agora tudo é “empoderamento feminino”. Vejo homens oferecendo cursos – lotado de mulheres – sobre empoderamento feminino. Puro oportunismo. Tem uma geração de jovens mulheres que começaram a facilitar a recém e se apresentam como as “magas” do Empoderamento Feminino. Então, acho que está na hora de criarmos novas nomenclaturas. De todo modo, penso que o Empoderamento Feminino se dá, basicamente, numa valorização do Universo feminino – suas questões e fragilidades forjadas no Patriarcado. Passa sem dúvida pelo Feminismo – pois se queremos igualdade, não tem como se dizer “não feminista”. Mas passa por um apoiar-se, um caminhar juntas com as outras irmãs e sentir que pode levantar a voz em todas as relações e situações abusivas. O Empoderamento Feminino é uma realidade – gostem ou não, se segurem, pois estamos dando as mãos e unindo nossa voz e nossos corações novamente, unidas pelo ventre, pelo sangue e pela irmandade.

Xeros tribais!
Após a leitura, uma reflexão longa: entendeu a necessidade de abordarmos tais temas e esse projeto de entrevistas voltadas para o Sagrado Feminino?! Traremos quinzenalmente mulheres de destaque em seus segmentos de trabalho, sigamos.
Maria Badulaques



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